{CRÔNICA}
Minha mãe nunca foi uma pessoa que se empolga com os avanços tecnológicos, pelo contrário, ela prefere os bons e velhos aparelhos e serviços, porque, segundo ela, são mais fáceis de manusear e compreender.
Quando o Netflix foi lançado, meu pai logo fez a assinatura, no entanto, a fez e não contou pra ninguém - que audácia ein, papai? Mas, ao contrário do que vocês devem estar pensando, ele não deixou de contar por maldade, o coitado só esqueceu de avisar que pagava o Netflix há três meses para suas filhas sedentas por aquele novo serviço que fazia tanto sucesso.
Minha mãe, como de costume, não entrou sequer uma vez no site sozinha para assistir alguma série ou filme. Ela assistia somente quando eu e minha irmã sugeríamos fazer isso juntas - minha mãe nem se arriscava mexer no site, eu e minha irmã que tínhamos que fazê-lo.
Após algum tempo, eu e minha irmã quase não ficávamos mais em casa, porque estudávamos e havíamos começado a trabalhar; não havia mais tempo durante a semana para assistirmos coisas com a minha mãe. Às vezes até de fim de semana fazíamos outras coisas e não podíamos mais fazer a maratona de filmes em família.
Minha mãe se via um pouco perdida, afinal, não sabia utilizar a tecnologia de entretenimento a seu favor, sempre a hostilizou. Até que um dia ela apareceu perguntando sobre a série do Netflix que mais falavam no momento: Stranger Things. Eu acho que nunca a havia visto falar sobre séries, muito menos séries que estavam na moda atualmente.
Minha irmã, que já havia assistido a primeira temporada de Stranger Things em um dia, começou a contar para a minha mãe o que havia achado da série e logo ela foi criando mais interesse em assisti-la. Minha irmã então ensinou minha à mamãe como utilizar aquele serviço digital mágico que era o Netflix, e ela logo o aprendeu.
Acho que nunca vi aquela mulher tão animada com algo fruto da tecnologia atual. Ela mal chegava em casa do trabalho e já pegava o notebook e ia para o quarto sozinha assistir Stranger Things. Acho que foi a série milagrosa para fazê-la se inserir um pouco nos tempos modernos em que vivemos. Mamãe, no fim, precisava somente de um Stranger Things para trazê-la ao século XXI.